
Excêntrico para uns, assustador para outros. Alguns o achavam louco, outros reconheciam seu valor. Era impossível não perceber sua presença pelas ruas e não se impressionar com sua personalidade. Ele viveu modestamente na Vila Kennedy por 48 anos e dormia em um caixão.
Joviano Martins Soares Filho, mais conhecido como Conde Belamorte, faleceu em 15/02/13, aos 83 anos, vítima de complicações decorrentes de uma isquemia cerebral. Belamorte foi encontrado morto pela filha de 12 anos, enquanto dormia em seu sarcófago.
Mineiro de Belo Horizonte, Belamorte era ex-militar, músico, poeta do macabro , poliglota, lutador de artes marciais e barbeiro. Autor de versos fortes como este:
Santo Deus, aquilo é o Diabo!Famoso nos anos 60 pela obra poética de temática fúnebre, mas também pelo estilo de vida peculiar - estava sempre vestido com uma manta negra, dormia em caixões e frequentava cemitérios. Em Belo Horizonte, onde o poeta viveu, sua história é uma lenda urbana até hoje - a rede de bares Devassa tem, no cardápio da casa, um dos pratos batizados com o nome "Conde Belamorte", em homenagem ao escritor.
Tem Chifres, barbicha rabo,
Pés de bode e solta chamas,
Seu membro viril que sobra,
Parece violenta cobra.
E o corpo é cheio de escamas!
Belamorte viveu seus últimos dias numa casa simples, na rua chamada "Travessa da Paz", na Vila Kennedy, mantida com a aposentadoria de um salário mínimo.
O poeta seguia os mesmos hábitos sombrios dos anos 60: de preto dos pés à cabeça, tinha colado na parede de casa inúmeras citações exaltando a morte. Caveiras decoravam as estantes repletas de livros (alguns em alemão, língua que Belamorte falava fluentemente). Não dormia mais num caixão, mas em um sarcófago, construído no canto da sala. Vivia ali com a filha mais nova, Semíramis, que pouco estranhava os hábitos do pai (a mãe da menina morava no andar de cima). Além de Semíramis, o poeta tinha outros quatro filhos, de nomes curiosos como Júpiter ou Tucícides. Todos vivem em Belo Horizonte.
Belamorte publicou o primeiro livro, "Rosas do meu altar", em Belo Horizonte, em 1955, encorajado pelo então governador do estado, Juscelino Kubitschek. Na época, era trompista da banda militar do estado, razão pela qual aproximou-se de Juscelino para mostrar seus poemas. Já flertava com a temática funérea, gosto tomado da infância (a casa dos pais ficava ao lado do cemitério de Nova Lima, e as tumbas serviam de playground). Como a indumentária começou a virar uma obsessão, saiu da banda militar e virou autônomo. Abriu uma barbearia - "Barbearia Belamorte".

Com o codinome "Conde Belamorte", publicou, em 1963, "A dança dos espectros", elogiado por críticos literários e suplementos especializados, que o compararam a Augusto dos Anjos. Nesta época, tornou-se um ídolo marginal ao aparecer em programas de TV de variedades ao lado do médium Chico Xavier e do diretor Zé do Caixão. Casou-se com a modelo italiana Gillida Bettoni, que adotou os mesmos hábitos do marido (inclusive o título informal, tornando-se a "Condessa Belamorte"). A vida curiosa do casal foi relatada em uma série de reportagens publicadas na "Revista Cruzeiro". Mas o casamento não durou muito tempo, e, antes de mudar-se definitivamente para o Rio de Janeiro, onde tinha uma tia, no início dos anos 80, Belamorte casou-se outras vezes. Só voltou a publicar novo livro em 1985, "Tonico Tinhoso, filho do diabo", que considerava sua obra menor (e que hoje não é encontrada por menos de R$ 100 em sebos).
Em reportagem publicada na Revista O Globo de 25 de setembro de 2011, Belamorte declarou: "Senti a necessidade de escrever sobre coisas mais profundas, que fizessem mais sentido para todos, não só para mim. Muitos poetas já celebraram a vida, a beleza, isso fez com que eu me sentisse vulgar. Os temas mais bonitos da música e pintura tem ligação com a morte, que é bela, não é o fim".
Além da obra macabra, Belamorte guardava centenas de poemas eróticos dedicados às mulheres que passaram pela sua "mausoleia", como costumava chamar o sarcófago em que dormia. Textos de nomes sugestivos, como "A desforra de Albanice" ou "Cristina Quebra-Cama".
Belamorte deixou, além dos cinco filhos, 17 pastas repletas de sonetos inéditos.
(Fonte: Blog Conde Belamorte e Jornal o Globo)
Além da obra macabra, Belamorte guardava centenas de poemas eróticos dedicados às mulheres que passaram pela sua "mausoleia", como costumava chamar o sarcófago em que dormia. Textos de nomes sugestivos, como "A desforra de Albanice" ou "Cristina Quebra-Cama".
Belamorte deixou, além dos cinco filhos, 17 pastas repletas de sonetos inéditos.
(Fonte: Blog Conde Belamorte e Jornal o Globo)